E ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho rebentará o odre e tanto o vinho quanto o odre se estragarão. Ao contrário, põe-se vinho novo em odres novos. (Marcos: 2: 22)
A parábola do vinho novo em odres novos é aparentemente muito simples, mas as vezes passamos despercebidos por ela.
Se tratando de Jesus, tudo o que Ele fala tem um sentido muito mais amplo do que simples palavras. E, antes de tudo, precisamos entender um pouco o contexto histórico da época e a importância desses elementos para aquele povo.
Tópicos
O que significam odres novos?
Os Odres eram um tipo cantil, feitos de pele de cabra (couro) e usado para guardar líquidos como água e vinho.

Os odres mantinham a temperatura do líquido agradável, principalmente para aquele ambiente desértico e para aquele povo que caminhava por grandes distâncias no calor médio de 40Cº.
O odre novo era também muito forte e ao mesmo tempo elástico, ótimo para armazenar o vinho novo que fermentaria com o calor liberando gases, expandindo a estrutura dele.
O povo daquela época também sabia que não era correto guardar vinho novo em odre velho, pois o vinho fermentaria, expandiria a estrutura do couro já sem elasticidade e com certeza, perderiam tanto o vinho quanto o odre que ainda teria uso para guardar água.
Lembre-se que o vinho é muito comum na cultura bíblica. Inclusive, o primeiro milagre público de Jesus foi o de transformar a água em vinho excelente numa festa de casamento em Caná da Galiléia (João 2).
O vinho é símbolo de vida, de sangue. Por isso o suco da uva é utilizado na Páscoa e na celebração da Ceia do Senhor, para nos lembrar do sangue de Jesus.
Jesus não faz remendo novo em pano velho
Antes de falar sobre o “vinho novo”, Jesus usou outra pequena parábola:
“Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura” (Mateus 9:16).

Quando Jesus falou sobre veste e remendo, Ele estava diante de alguns discípulos de João Batista que o interrogavam sobre jejum.
A necessidade de tal pratica também era observada com afinco pelo clero fariseu. Antes de proferir essa parábola, Jesus havia se deparado com fariseus e escribas criticando seu modo de viver:
“Por que come vosso mestre com os publicanos e pecadores? (Mt 9: 11) Ele blasfema (Mt 9: 3), rogaram para que Jesus se retirasse de seu território (Mt 9: 34)”.
Imaginar Jesus salvando vidas com todo amor e bondade de Sua alma e recebendo olhares e palavras ríspidas como recompensa.
Mas Ele não desistia, nem se intimidava com a perseguição, muito pelo contrário, todo o tempo possível era usado para curar corações. Pessoas, vidas, esse era o maior alvo do Mestre.
Significado da Parábola do Remendo Novo em Pano Velho
Costureiras sempre dizem que é mais fácil e prático fazer uma peça nova do que concertar uma antiga.
Remendos são soluções provisórias para prolongar a vida útil de uma veste e a palavra grega usada por Jesus sobre remendo foi “Agnaphos”, indicando um tipo de tecido inacabado, de algodão e fibras ainda desalinhadas.
Ou seja, um tecido que precisaria de retoques especiais para poder ser utilizado e nunca em veste velha, caso contrário, com a subsequente lavagem, ou mesmo com a força da linha de costura, o rasgo se tornaria ainda maior.
A fraqueza do tecido velho, não suportaria a junção e resistência do novo.
Interessante perceber a referência ao tipo de tecido usado para remendo e a contextualização da conversa que girava em torno de fariseus e discípulos de João batista:
O pano novo era o próprio Jesus, a Nova Aliança da graça e a roupa velha, era a lei, todo o sistema religioso que dominava os fariseus, escribas e religiosos da época que não compreendiam os requisitos para o Novo Reino: arrependimento, perdão, novo nascimento.
Jesus estava com eles, e Ele era maior que toda e qualquer regra, a santidade consistia em se aproximar Dele e recebê-Lo no coração como novo homem, com nova vida.
Apesar da comparação entre antiga e nova aliança, pano velho e remendo novo, Jesus aponta para um futuro em que os corações dos homens seriam comparados a vestes novas, brancas, completas, sem remendos.
Uma transformação possível através da fé e não de tradições. Do amor, e não da religião. Da graça que se cumpre com a ação do Espírito santo em nós, pecadores como Saulo que se fez Paulo. Eis o reino de vestes que não precisariam de remendos.
Jesus não veio apenas para remendar sua vida
O homem das vestes velhas é vaidoso, ignorante, duro de coração, separado de Deus, enganado quanto a si mesmo, voltado para imoralidade e sem sentimento.
Eu, quando observei o significado real de “sem sentimento”, pude compreender melhor o estado do homem que vive sem Cristo.
“Sem sentimento” é a tradução para “parar de vigiar, de se preocupar”.
A veste velha é como esse homem que se acostuma ao pecado e já não liga mais para o que Deus pensa sobre ele.
Se perde o temor, o amor e procura agradar somente a si mesmo.
Os remendos surgem com muitas cores e tamanhos: “idas a igrejas, vida fora de suspeita, evangelho vivido de forma emocional , superficial, mas nada de transformação, de rasgar as antigas vestes e vestir as novas para aguardar a volta do Noivo”.
A obra de Jesus em nossas vidas não se compara a um remendo. Ele veio trazer novidade, restauração completa.
Jesus deseja trazer vinho novo para odres novos
O vinho novo é símbolo da vida abundante que Jesus nos oferece. Em Jo 10.10, Ele disse: eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente.
O suco da uva representa esta vida plena que a pessoa tem o direito de desfrutar a partir do momento quando faz sua aliança com Deus.
Porém, a condição para desfrutar desta bênção é renovar-se. O suco da uva deveria ser guardado em odre novo, caso contrário, se perderia.
Você é o odre que precisa renovar-se
O odre novo é o recipiente que recebe o vinho novo. Acontece que o vinho sofre um fenômeno químico e fermenta, gerando gases que exercem pressão no odre.
Um odre envelhecido não suporta esta pressão e se rompe, colocando a perder o vinho.
Quando você se entrega a Jesus e decide viver para Deus, será que existe alguma “pressão”? Claro que existe.
Justamente por isso é preciso ser um odre novo para viver plenamente para Deus.
Como fazer para renovar um odre velho?
Quando um odre se tornava velho havia um processo para restaurá-lo. Consistia em dois cuidados:
1º. Deixá-lo imerso em água limpa até purificar-se de todo vinho velho. Isso quer dizer que para você receber o “vinho novo” de Deus precisa se deixar limpar dos resquícios de religiosidade e pecado.
É preciso fazer como o homem de Lc 5.12, que prostrou-se e pediu para Jesus: Se quiseres, podes limpar-me.
Contaminado pela lepra do pecado ninguém consegue viver plenamente para Deus. É preciso se limpar, deixando o pecado.

2º. O odre é renovado quando, limpo, é ungido com azeite. O azeite devolvia ao couro a elasticidade.
Representa a ação do Espírito Santo de Deus em nossas vidas. Ungidos pelo Espírito, estamos aptos para receber o vinho novo de Deus em nossas vidas.
Em Ef 5.18, Paulo diz: Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito.
Neste texto, podemos dizer que a Bíblia nos manda rejeitar o “vinho velho” e a embriaguez do pecado. Encher-se do Espírito Santo de Deus é fundamental para viver uma vida em Deus.
Vinho novo em odres novos, palavras finais
O vinho novo representa a vida de bênçãos que Jesus conquistou para nós com o sangue que Ele derramou na cruz.
Não se trata de um “simples remendo” para sua vida, mas uma vida nova, em Deus.
Entregue-se ao Senhor para que Ele o torne um “odre novo” e derrame em sua vida deste vinho novo.
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